Marcelo Kenji Miki

Musashi: o maior Herói do Japão

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Resenha de Livro publicada na Revista SANEAS, AGO 2004, pág.49.

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O  livro

O livro “Musashi” de Eiji Yoshikawa é o maior fenômeno editorial da história do Japão, com mais de 120 milhões de exemplares vendidos e tem como personagem principal uma das maiores lendas de samurai: Miyamoto Musashi. Este romance baseia-se num personagem real da história do Japão, que viveu aproximadamente entre 1584 e 1645, misturando realidade e ficção. A tradução do original japonês ao português chegou ao Brasil em 1999 pela Editora Estação Liberdade, aproximadamente 60 anos após a sua publicação, graças a subsídios de programas de apoio da Fundação Japão.

No Brasil, “Musashi” já ficou presente nas listas dos mais vendidos (atualmente na 10ª edição). Apesar de ser uma obra extensa com mais 1800 páginas (dividida em 2 volumes), a sua leitura é extremamente ágil, pois as tramas deixam o leitor curioso em saber como se desenrolará os vários encontros e desencontros dos seus personagens, recheados de desafios, duelos, amores, espionagens, aprendizados etc.   

O início do romance começa na Batalha de Sekigahara em 1600, onde cerca de 150 mil samurais lutaram na mais importante batalha do Japão, cujo grande vitorioso foi o general Togugawa Ieyasu. Em 1603 Togugawa tornou-se o Xogum, cuja denominação significa “generalíssimo para a expulsão dos bárbaros”,  após a realização da unificação do país.  E é nesta Batalha de Sekigahara que se encontram os amigos de infância Matahachi e Takezo (que posteriormente muda seu nome para Musashi), que lutaram juntos no exército perdedor e saem milagrosamente vivos.

A partir daí começa uma série de duelos e como também não podia deixar de ter, um amor platônico com a mocinha Otsu. Uma das primeiras lições recebidas por Takezo vem através do encontro com um mentor, chamado de monge Takuan. A lição que Takuan impõe a Takezo é ficar 3 anos enclausurado tendo como companhia somente os livros. Após esta primeira lição, Takezo recebe um novo nome: Musashi. E seu sobrenome vira Miyamoto, em homenagem a sua vila natal.   

Ao longo deste romance pode-se ter, além de uma verdadeira aula de história, uma perpectiva do pensamento do povo japonês, através dos seus costumes, atitudes e formas de encarar a vida.

É intessante também notar que muitos conceitos derivados de um Sistema de Gestão ISO, como melhoria contínua de processos, estudo e aperfeiçoamento pessoal, encontram-se no pensamento japonês e tiveram grande recepção no Japão quando foram apresentados pelo Pai da Qualidade, W. Edwards Deming, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos. Portanto a leitura de Musashi também pode ser interessante não apenas para se conhecer a cultura nipônica, mas também compreender de uma forma artística o embrião da Qualidade, seguindo o caminho da espada junto do samurai Musashi. O próprio Musashi escreveu o Livro dos Cinco Anéis, que é utilizado como leitura para empresários japoneses em busca de estratégias para a sobrevivência no mercado.    

Na jornada do samurai, Musashi é dominado por uma certa angústia de nunca se contentar com o estágio em que se encontra no domínio do manejo da espada (aliás 2 espadas, uma em cada mão). E com  isso abate sucessivamente os seus perigosos oponentes de forma a se aperfeiçoar cada vez mais, ou ainda, a melhoria contínua.

A postura de Musashi perante a vida é de ser um eterno aprendiz, buscando-se aperfeiçoar em diferentes situações e não só nos duelos. Musashi tem a humildade de aprender com quem quer que seja, mesmo que aparentemente não apresente condições a primeira vista. Numa situação, Musashi aprende com um menino, que se torna o seu discípulo, a olhar as condições do tempo e a se previnir para a estocagem de suprimentos. Ou mesmo numa situação banal, em que acaba pisando por distração num prego, acaba tirando uma lição de vida.

Em relação à importância aos estudos, há uma passagem em que Musashi aconselha o seu incorrígivel amigo Matahachi com um discurso típico presente nas famílias japonesas, que é o de que para ser alguém na vida devemos estudar com esforço e arranjar um bom emprego.

 

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Musashi: em mangá

Para aqueles que terminam de ler o livro e sentem a necessidade de buscar novas aventuras de Musashi, cabe uma outra alternativa para saciar a vontade em outra fonte: os Mangás (revistas em quadrinhos japoneses).

Em 1998, foi lançado no Japão o mangá  “Vagabond”, baseado justamente no livro de Yoshikawa. E igual ao livro, já é um sucesso internacional e é publicado na Itália, Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha e no Brasil pela Editora Conrad desde novembro de 2001.

A história e os desenhos de “Vagabond” são de autoria de Takehiko Inoue, desenhista que já ganhou os prêmios mais importantes de Mangá do Japão. Quando se depara com um quadrinho de “Vagabond” nota-se a obsessão nipônica pelo detalhe, onde cada folhinha de árvore numa grande floresta é desenhada.

No Brasil, as primeiras edições de “Vagabond” também trouxeram matérias especiais sobre assuntos correlacionados com a cultura japonesa. Desta forma “Vagabond” torna-se pura diversão e cultura ao mesmo tempo.

Marcelo Miki, Agosto de 2004